Segundo Ronaldo Fonseca (PROS-DF), votação não era "momento para debate"; ele alega que governo do PT "virou as costas para Israel"

Em vez disso, optaram por argumentos variados. O deputado federal Ronaldo Fonseca (PROS-DF) foi um deles. Ele justificou o voto a favor do impedimento da petista pela "paz em Jerusalém".
Nas redes sociais, muitos usuários não entenderam a correlação entre o impeachment da presidente e o fim do conflito entre israelenses e palestinos.
A BBC Brasil ouviu Fonseca para entender por quê.
BBC Brasil - Por que o senhor votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Fonseca - Fui membro da comissão especial do impeachment e acompanhei todo o debate. Tenho convicção de que a presidente Dilma cometeu crime. Ela feriu a responsabilidade fiscal. Se houve crime, não vejo motivo pelo qual ela não sofra impeachment, que está previsto na Constituição.
BBC Brasil - Mas por que, então, o senhor não mencionou tudo isso em seu voto?
Fonseca - Porque tínhamos apenas dez segundos para declarar o voto. Mencionei que estava convencido do crime. E que havia amparo da Constituição. O debate não era para ser feito naquele momento. Aquele momento era o do 'sim' ou o do 'não'. O objetivo não era para convencer ninguém sobre crime nenhum. Os deputados utilizam aquele momento para, além de dizer 'sim' ou 'não', fazer algum destaque que ache interessante para a população. Ali não é lugar de debate.
BBC Brasil - Por que o senhor optou, então, por dar destaque à "paz em Jerusalém"?
Fonseca - O governo do PT virou as costas para Israel. Eles priorizaram os árabes. A única vez que um presidente da República foi ao Oriente Médio e não pisou em Israel foi o presidente Lula. A presidente Dilma rejeitou um embaixador indicado por Israel só porque ele foi colono na Palestina, na Faixa de Gaza (Dani Dayan foi líder dos colonos na Cisjordânia). O governo do PT priorizou os guerrilheiros, priorizaram Cuba, Venezuela. A presidente Dilma fez defesa até do Estado Islâmico (em realidade, na época dos ataques em Paris, a presidente criticou a "barbárie da organização terrorista Estado Islâmico"). Falei para chamar atenção mesmo.
BBC Brasil - Por que o senhor acredita que o atual governo agiu errado no Oriente Médio?
Fonseca - Israel sempre foi aliado do Brasil. O embaixador na ONU que deu o voto de minerva para a criação do Estado de Israel foi brasileiro (Osvaldo Aranha). O Brasil tem uma cultura judaico-cristã. Oitenta e cinco por cento da população brasileira tem essa cultura. Por que virar as costas a Israel? E defender os países árabes? Eu quero a paz em Jerusalém, eu quero a paz na Faixa de Gaza e eu quero a paz em Oriente Médio.
BBC Brasil - Mas o que a paz em Jerusalém tem a ver com o impeachment da presidente?
Fonseca - Impeachment só pode ter se ela cometeu crime. O fato de ela ter virado as costas para Israel não é motivo de impeachment, mas é motivo de crítica.
BBC Brasil - Se não é motivo de impeachment, por que o senhor justificou o voto dessa forma?
Fonseca - Como crítica. Fiz questão de salientar a Constituição Federal. Já havia dado o voto, por que não poderia criticar?
Fonseca - Entendi como uma crítica. Isso é normal na crítica. Quem não souber conviver com a crítica, tem de ir para a ditadura. Eu queria realmente chamar atenção e alcancei meu objetivo. Queria chamar atenção para o fato de o Brasil dar as costas a Israel. A crítica faz bem para a democracia. Se for criticado, tenho de aceitar a crítica e tocar o mandato.
BBC Brasil - O senhor acredita que se a presidente Dilma sofrer o impeachment, a paz em Jerusalém será atingida?
Fonseca - Sim. Por que não? Porque o Brasil não pode ser um instrumento de paz? O Brasil sempre foi um instrumento de paz. O governo do PT quebrou isso, priorizando Cuba e Venezuela. Isso depõe contra nós, ficamos pequenos, nos diminuímos demais. E Jerusalém é vista pelo mundo todo. Os jornais quase todos os dias falam do Oriente Médio. Os Estados Unidos têm uma aliança muito forte com Israel. Brasil precisa mudar a política externa. Acredito que um novo governo, com o impeachment da presidente, vá contribuir para que haja paz em Jerusalém e paz no Brasil.
Luís Barrucho /Da BBC Brasil
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